4 de mai. de 2013

Eu adoro, eu me amarro...


Em 1973, Marvin Gaye esbanjava sensualidade nas rádios com "Let's get it on" , o cessar fogo no Vietnã foi decretado, Pinochet deu um jeito de acabar com Allende, morreu Picasso e eu nasci.

Em 1973, não havia o Bonde das Maravilhas com o Quadradinho de 4 e sim Raul Seixas, preferindo ser uma metamorfose ambulante, do que ter a velha opinião formada sobre tudo. Médici era então o Presidente da República e a ditadura estava há dez anos nas cabeças. Seria tão ruim assim? Duvido que teríamos na TV aberta quatro bundas para cima, fazendo prova do apelido "carinhoso" dado atualmente às mulheres: cachorras. Bem... em 1973, só tínhamos a TV aberta e nesse ano a principal estréia foi o Fantástico e o O Bem Amado, primeira novela em cores que  já tinha como personagem principal, um político corrupto. Em quarenta anos nada mudou, visto José Genoíno cantando "daqui não saio, daqui ninguém me tira" e Lula "I don't know nothing".

Cinco anos antes, em 1968, um bando de enlouquecidas, resolvem queimar os sutiãs em praça pública, protestando contra um concurso de Miss América, entendendo que esse tipo de evento tratava a mulher como objeto e tinha objetivo de exploração comercial da beleza. Beleza!!! Mas não era mais bonito que as bundas pra cima das senhoritas vulgares do tal Quadradinho de 4? Era então o início da luta feminina por direitos iguais. Esqueceram de comentar na tal convenção sobre obrigações iguais. Quarenta anos depois, estamos nós, carregando o mundo nas costas, com jornada tripla: no trabalho, em casa e devendo no fim do dia ainda estar cheirosinhas, gostosinhas e abarrotadas de libido, mesmo  depois de dezoito horas do dia aturando  o trânsito, o chefe, a pós graduação, o inglês, os filhos, a academia e o maridão deitadão no sofá vendo a Patrícia Poeta, provavelmente para garantir a punh... Não era muito mais fácil ficar só com a jornada de casa, depender financeiramente da criatura e se sujeitar a alguns chifres? Aff... Aposto que ia sobrar tempo para a depilação... 

Voltando à cronologia. Em 1977, através de uma emenda constitucional, o divórcio é instituído do Brasil e assim garantimos o direito de nos livrar dos malas, mas carregamos o preconceito por mais uns vinte anos. Mais um pouquinho à frente,  as coisas foram evoluindo e resolveram dar um fim ao governo militar e instituir a democracia, através de um movimento chamado Diretas Já e advinha quem eram os cabeças desse movimento? Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio, Orestes Quercia, Roberto Freire, Eduardo Suplicy, Leonel Brizola e ainda a maior galera da classe artística, todos voltando do exílio... Os caras  eram idealistas, democratas e lutavam por um Brasil melhor e como isso foi parar do jeito que está? Como diria meu filho: "alguém está fazendo isso errado". E eu, com dez anos, acompanhando pela TV Tancredo Neves, a grande esperança, morrer antes da posse, nos deixando José Sarney como herança, que depois da Presidência, tomou o Senado por uma eternidade, além do Estado do Maranhão. Mas aí eu estaria pulando trinta anos e temos que falar sobre a década de oitenta e noventa.

Entre 1984 e 1987, eu estudava em um colégio de freiras, onde apesar de odiar as aulas de religião e ter que cantar o hino nacional todas as sextas, cumpria tais obrigações, porque é assim que tem que ser. Afinal, a vida está aí cheia de normas e regras e nem adianta se revoltar, porque elas chegam na forma de contas a pagar. Mas nessa época, a preocupação era só com as provas, com o bate papo no pátio da escola, com quem iria se apaixonar platonicamente, com as festinhas americanas no fim de semana e em pegar o longplay com os colegas para gravar na fita cassete e perder um tempão rebobinando até a música que queria escutar. Nesse momento eu paro e dou uma salva de palmas à evolução, que nos proporciona o MP3, mas mantendo meu protesto pela falta de incentivo à cultura, pois sou muito à favor do arquivo pago para download aos moldes do iTunes. Todo mundo estaria feliz, pagando um preço justo pelo entrenimento. Bom pra nós e para a música.

Em 1985, o último grande festival da música popular brasileira, chamado de Festival dos Festivais, colocou no pódio Escrito nas Estrelas pela voz agudérrima da Tetê Espíndola, que nunca mais ouvi cantar. E foi aí que me apaixonei pelo Oswaldo Montenegro que concorria com O Condor. E há quem odeie o Oswaldo... mas vou fazer mais um comparativo: agora é o Naldo, tomando seu whisky ou água de coco, cheio de tesão e cada vez querendo mais. Tesão sempre existiu, mas era tudo muito mais emocionante e emocional.

Em 1986, meu presente de amigo oculto foi o LP Cabeça Dinossauro, do Titãs, com ênfase na faixa Bichos Escrotos que quase furou. Pensa bem, os caras estavam prevendo o futuro. (Vão se fuder!/Porque aqui/Na face da terra/Só bicho escroto/É que vai ter - preciso falar de novo sobre o Quadradinho de 4?). No ano anterior, tinha sido Legião Urbana furando a faixa Será e no ano posterior Finis Africae, com sua Armadilha. Em 1987, dando adeus ao primeiro grau, foi a vez de cair nas graças da música americana, descobrindo U2, Simple Minds, New Order, INXS e vidrada na MTV que colocava o Gun's and Roses a cada dez minutos com o Axl Rose lindo e magro e Jon Bon Jovi sem botox. Adoooooro!!!!

Hoje eu sou uma mãe super neurótica, levo e pego meu filho de quinze anos nas festas, monitoro os passos pelo celular, morro de medo de sequestro relâmpago, roubo de órgãos e de que se meta com drogas. Passei a adolescência inteira sem que me oferecessem um cigarro de maconha. Em novembro de 1987, tinha acabado de completar 14 anos e fui ao show do Sting no Maracanã com uma galera gigantesca e dormimos no corredor do prédio do primo de um dos meninos do grupo para não voltar para casa de madrugada, enquanto minha mãe dormia tranquilamente em casa. Os termos "bala-perdida", "arrastão", "bandidos armados até os dentes", foram aparecer só uma década mais tarde. Entre 1987 e 1988, fomos aos shows do New Order e The Cure no Maracanãzinho e aos eventos Alternativa Nativa, patrocinados pela saudosa Mesbla, que juntava duas ou mais bandas nacionais na mesma noite. Em 1989, foi a vez de Rod Stewart na Praça da Apoteose e em 1990, o Hollywood Rock com seu pacotão de atrações internacionais (fomos no dia do Marillion). Em 1992 fomos no dia do Barão, Skid Row e Extreme, que quase colocou o povo enlouquecido cantando seu único single de sucesso: "More than words". Foi somente esse ano que comecei a trabalhar e fazer faculdade. Não sei como minha mãe, viúva pensionista da merreca do INSS e professora de New Iguaçu, conseguia bancar a mim e minha irmã nesse batidão de eventos. Ahhh, lembro sim, não existia carteirinha de meia entrada e os preços eram super acessíveis. Para levar meu filho ao Rock in Rio ano passado, tive que parcelar os ingressos em seis vezes.

Entre 1992 e 1996, fazia faculdade, tomava chopp depois da aula e saía toda sexta, sábado e domingo. Essa foi a fase da house music e boates e também dos carnavais em Salvador. Muita diversão, pouquíssima bebida. Saíamos sem preocupação com a Lei Seca. Éramos mais responsáveis. Casei e no fim de 1997 nasceu meu filhote. Passei a trabalhar demais, principalmente depois do divórcio em 1999. Nesses últimos quinze anos, parece que pisquei e tudo ficou estranho e não consigo seguir uma ordem para os fatos. Tenho a impressão que a caixa de pandora rachou e por uma fresta as coisas ruins foram saindo e contaminando tudo: violência, corrupção, falta de fé e de amor ao próximo, o acesso às drogas, homofobia,  intolerância e o Quadradinho de 4.

Saudades de 1973...

Começo aqui a campanha contra a divulgação desse tipo de música e comportamento. Desligue a TV, troque a estação da rádio, não abra os links do Youtube, não permita que toque nem em festinha com a velha desculpa: "o ritmo é bom". Leia um livro, assista um filme, faça uma caminhada, alimente sua alma...

Para ilustrar, segue um vídeo com a autêntica homenagem às mulheres - Todas elas juntas numa só.







E um outro com a prova de que a mulher sempre é linda e não precisa ser vulgar, mesmo com as pernoconas de fora. É uma questão de comportamento.







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