Atacama

San Pedro de Atacama, Chile, Dezembro/2012
Porque a vida tem trilha sonora...
Bem... o grande dia chegou, aquele que me afastaria por 13 dias da confusão e desgaste. Esse tempo daria um pouco de oxigênio para o início de 2013. Embarquei para San Pedro do Atacama, onde ficaria por quatro dias na minha própria admirável companhia e em seguida para Santiago, onde um dos meus melhores amigos se juntou ao abrigo anti stress (ele anda sofrendo do mesmo problema: infecção corporativa).

Tudo começou há alguns meses, na escolha do destino. Na verdade queria ir para o Caribe Colombiano, mas para lá não dava pra ir com as milhas e também não vi como um bom destino para viajar sozinha e até então meu amigo não estava na programação. Lendo um artigo, o Atacama veio à cabeça por ser o destino de muitos viajantes-solo e por ter o bom e velho esquema dos roteiros pré definidos preparados pelas agências locais. Não é um dos destinos mais baratos (tal qual Bonito), mas compensei nas milhas e montei o roteiro. Escolhi a data a fim de conciliar com o retorno para casa no Natal e olha a coincidência: 12.12.2012. Só podia dar certo!!

Busquei em sites como Mochileiros, Viaje na Viagem e O Viajante dicas de quem lá esteve, agências, hostels e etc. Montei um roteiro prévio e entrei em contato com as agências mais comentadas nos sites e blogs, escolhendo a Maximexperience, pela atenção dada no retorno ao e-mail e a todos os milhões de questionamentos que fiz no decorrer do planejamento.


Para chegar à São Pedro do Atacama fiz uma verdadeira via crucis. Saí de casa às 4 da matina para pegar o voo das 6:00, com conexão em Guarulhos que chegou à Santiago às 13:30 (horário de Brasília) e 12:30 no horário local (ganhei uma hora!!!). Fiquei perambulando no aeroporto para fazer hora até o próximo voo com destino à Calama, cidade “grande” mais próxima a SPA, duas horas voando e uma hora de transfer em van.


O trajeto de Calama à SPA já é impressionante, pois são 80 Km de estrada no meio do deserto, com direito ao pôr do sol no caminho, mas estava tão cansada que tudo que queria era um chuveiro e uma cama. Entrar em SPA é uma experiência surreal, pois é o tipo de cidade nunca vista. Casas de adobe povoam pequenas ruelas e a poeira é fator presente em 100% do tempo. É como entrar em uma cidade de filmes de faroeste (não me espantaria em ver John Wayne passando a qualquer momento). Em meia hora batendo perna, o susto inicial passa e logo nos acostumamos. Cheguei em San Pedro às 7 da noite. Passei na agência para fazer o pagamento e pegar a programação dos próximos 4 dias, comprei umas empanadas e fui para o hotel. 

Em todos os dias, me misturei aos turistas nos passeios, sem problemas, sem solidão e conseguindo me integrar muito bem. SPA é definitivamente um dos melhores destinos para quem gosta de viajar só. É claro, que também tenho que dar mérito à minha sorte. Dos seis roteiros montados pela Maxiexperience, o guia era simplesmente o The Best. Imagina o que um cara tem que fazer para pegar os turistas às 4 da matina, para enfrentar um frio de 5 graus negativos e tornar tudo muito leve: música. Com uma  trilha sonora variadíssima nos gêneros dos anos 80 e 90 (devidamente copiada para meu Ipod), Felipe ganhou meu coração nos dias de Atacama.  No primeiro dia, o grupo era bem misturado, mas três casais de brasileiros e um enfermeiro da guiana francesa formamos um grupo divertidíssimo. No mesmo dia à tarde, o grupo era um porre, mas consegui que um casal da Malásia tirasse algumas fotos e aproveitei o tempo para curtir o silêncio (Enjoy the Silence).



No terceiro dia, o passeio para o Salar de Tara foi bem pessoal, estando somente eu, um suíço quietinho que acabou incorporando o jeito brasileiro e uma mineira. Nos demos super bem e à tarde fomos de bike até Pukara de Quitor (quase morri ao pedalar aos quase 3 mil metros de altitude). À noite fui a um tour astronômico lotado de brasileiros. No último dia,  um tour somente pela manhã, mas mais uma vez, o guia The Best.

Tudo poderia ter sido perfeito, se não fosse o aborrecimento ao fechar a hospedagem, que já havia sido paga. Aparentemente, eu deveria ter saído do quarto ao meio dia, porém não havia nenhum aviso no quarto. Resultado: a dona da pousada, ligeiramente mercenária, me cobrou mais uma diária. Falei horrores, mas acabei pagando porque o transfer já estava chegando para me buscar. Se tivesse tempo, iria até a agência tentar dar um jeito. Desaforo puro, pois apesar de haver café da manhã incluso, em nenhum dos dias utilizei o serviço e também não pedi desconto na primeira diária, visto que cheguei às 19:00 (quando a diária começaria ao meio dia), o quarto só foi limpo um dia. Sinceramente, há zilhões de hostels em San Pedro mais próximos a Calle Caracoles (onde tudo acontece), mais baratos e acredito menos impessoais. O chuveiro quente era bom, mas ainda assim, não recomendo o Hotel Dunas nem para o inimigo. Em suma, foi o banho mais caro no mundo: 63 dólares. As pessoas que lidam com turismo, deveriam entender que o que faz a economia dessa área é a capacitade de manter os turistas satisfeitos.

Indo embora, na estrada San Pedro x Calama, não deu para segurar a lágrima que escorreu livre, agradecendo a Deus mais uma vez pela oportunidade e com a promessa de que vou dar um jeito na minha vida. Uma pessoa que perdeu a paciência de ouvir música nos últimos tempos, só pode estar com o nível de stress muito alto. Já que esse ponto foi muito foco nessa viagem, é melhor eu fazer a lista de ano novo e começar a colocar em prática antes mesmo da virada, porque o tempo é precioso (Não temos tempo a perder/Legião Urbana). 




Dia 01 – Lagunas Antiplâncias, Socaire, Tucanao, Gran Salar de Tara e Valle de La Luna
Miscanti e Miñiques localizadas a 4.220 mts são parte da Reserva Nacional e administradas pela comunidade indígena de Socaire. A erupção do vulcão Miñiques, ocorrida há um milhão de anos, originou o estancamento das águas que antigamente escorriam livremente ao Salar, dando origem a estas duas lagoas de águas azuis e margens brancas. Na volta,  passamos por Socaire, um povoado pré-colombiano, que hoje em dia é reconhecido pela sua comida típica atacamenha e um outro povoado chamado Tucanao. Em Atacama, o maior Salar do Chile, encontra-se uma das reservas de flamingos mais importantes do país: a  Reserva Nacional dos Flamingos, incluindo a Lagoa Chaxa.




A 19km de San Pedro, na Cordilheira do Sal, encontra-se o Vale de la Luna, declarado Santuário da Natureza e Monumento Nacional pela sua beleza paisagística inigualável. Está formado por uma depressão rodeada de pequenos morros com impressionantes cristas afiadas, onde encontraremos formações geológicas que são o resultado de sucessivos dobramentos da crosta terrestre.



Dia 02 – Geisers del Tatio, Machuca, Laguna Cejar, Ojos de Salar e Laguna Tebinquiche
Saída às 4 da matina para um centro geotermal com geisers que podem ser observados somente muito cedo na manhã, afinal chegamos lá com a temperatura marcando cinco graus negativos e a água sai com oitenta e cinco positivos (por isso a fumacinha). No retorno, passamos por Putana e  Machuca, pequenos povoados de pastores de lhamas decorado com casas de adobe e telhados de palha, e um verde bofedal (pântano de pastagem para as lhamas) que lhe dá um encanto especial.
Na parte da tarde, saímos 20 km de San Pedro de Atacama e a 2.330 mts de altura, encontra-se a Lagoa Cejar no meio do Salar de Atacama, num belo entorno natural e rodeada de cristais de sal, não dá pra não entrar e experimentar o banho, onde o nível de flutuação é superior ao Mar Morto devido a sua alta concentração de sal e lítio. Logo em seguida, estão Los Ojos del Salar, duas piscinas de água doce enormes, redondas e paralelas, como se fossem olhos cravados no chão.

Para fechar com chave de ouro, a Lagoa Tebinquiche, uma enorme lagoa de sal. Impressionante. Não dá pra descrever. Foi o lugar que mais amei no Atacama e o mais belo pôr do sol que assisti em toda minha vida e ao som de The Magic Numbers. Foi um dia mágico.

Dia 03 – Salar de Tara, Pukara de Quitor, Tour Astronomico

O caminho até o Salar pode ser considerado mais um atrativo. A estrada acompanha o vulcão Licancabur e acaba em área gigantesta onde vislumbramos grandes formações como os Monges de Pucana e as Catedrais de Tara, praticamente na fronteira Chile x Bolívia x Argentina. O Salar de Tara é uma grande reserva de flamingos (como eu queria ter uma lente 500mm fixa).
Na parte da tarde, alugamos bicicletas e partimos para Pukara de Quitor, um sítio arqueológico que só vale conhecer se tiver tempo livre, a vista é linda, o sítio nem tanto (acho que meu ponto de vista de sítios arquelógicos foi mal acostumado com o Vale Sagrado dos Incas no Peru). Para chegar é só seguir a Calle Tocopilla até o final e seguir as placas por 3 Km. A ida foi complicada, contra o vento e pedalando em 3mil metros de altitude. Já a volta, a favor do vento, foi "peace of cake".
A noite fiz o Tour Astronomico, mas não aproveitei muito, estava mega cansada e ainda escolhi o tour errado.

Dia 04 – Valle del Arco Iris


De San Pedro de Atacama, vamos para a cordilheira Domeyko, onde pode desfrutar a paisagem do deserto e uma vista da Cordilheira dos Andes, até o setor do Vale do arco-íris, que deve o seu nome para as colinas de cores variadas, tais como vermelho, verde, azul, cinza e violeta, o que conta para a composição de minerais, neste lugar andará canto muito suave. No retorno paramos no setor de Herb Bom, onde encontramos formações de rocha vulcânica que contam a história dos povos que habitaram o lugar através de suas pinturas rupestres.
  
Entre um roteiro e outro, cabe a vista à igrejinha de San Pedro e ao Museu Le Paige, bem próximos no finalzinho da Calle Gustavo Le Paige.
Onde comi:
* La Casona: ótimo churrasco com feijões verdes e tomate
* Tierra Todo Natural: ótima empanada (ainda que frita e não assada) de massa integral
* O meu preferido fica na Caracoles, um pouco antes do Tierra Todo Natural, é uma padaria na frente e um bistrô no fundo. Sanduíches ótimos com preço super razoável. Pena que não lembro o nome, mas coloquei a foto, ainda mais que o ambiente é mega lindo.
Um arrependimento: ao invés de ir para Santiago por seis dias, eu deveria ter ficado mais três em San Pedro e ter feito o Salar de Uyuni na Bolívia. Mas, c'est la vie... quem sabe, em breve.

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